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Liberdade de ser

Em minha recente mudança, minha mãe viu um livro, veio me dizer que queria levá-lo para ler. É um livro de crônicas e receitas alternativas, intitulado "Meditando na Cozinha" . As receitas são bem diferentes, porque são usados ingredientes que foram pesquisados pela própria autora, Sonia Hirsh . Uma da histórias que ela conta é a de um homem cujo cavalo estava doente. Tinha câncer em uma de suas pernas e precisava ser sacrificado. Como era muito religioso, não tinha coragem de tomar essa atitude, e, com dó do animal, resolveu soltá-lo, para que ele fosse viver seus últimos dias junto à natureza, menos triste ou sofrendo menos, talvez. E o cavalo se foi. Todos os dias, seu dono o observava de longe e percebeu que ele se alimentava sempre de uma pequena vegetação que havia num canto do pasto. Três semanas depois, ainda observando seu antigo animal, notou que ele estava diferente e pôde perceber que o câncer havia estancado e, de alguma forma curado. Intrigado com o...

Decisões e intuições

Existem épocas na vida em que precisamos decidir por algumas mudanças; algumas subjetivas, que acho mais fáceis; outras objetivas; decisões sobre questões mais importantes, que dão outro o rumo em nossa vida. Decisões que envolvem dinheiro, riscos, mudanças (quase) definitivas nos rumos que vamos tomar. Enfim, mudanças que reconfiguram o que vivemos hoje, porque envolvem outras mudanças em consequência. Quando isso acontece, é preciso refletir. Acontece muito comigo, de algo ficar ficar na minha cabeça me dizendo que preciso mudar certas coisas. Aí, eu fico em dúvida; "por que isso se torna algo intermitente em meus pensamentos?" Eu mesma já penso que é algo me dizendo que é hora de mudar, porque são novas etapas que a própria vida nos coloca à frente. Então, refletindo, vemos que existem opções, caminhos diferentes a escolher, diferentes formas de agir e, nesse momento, surge certa dificuldade, porque nem sempre é fácil decidir, saber o que será melhor. Aí, ou desi...

Felicidade, preocupação desnecessária

Perguntado, em uma entrevista, sobre o que é a felicidade hoje, Contardo Calligaris , doutor em psicologia e psicanalista, prefere falar em condições de bem-estar das pessoas. Para ele, ligamos felicidade à satisfação de desejos. E "nenhum desejo pode nos satisfazer plenamente" . Justifica nos dizendo que o fato de se desejar muito um homem, uma mulher, um carro, um relógio, uma joia ou uma viagem não tem relevância. No dia em que se tiver aquele homem, aquela mulher ou qualquer daqueles objetos de desejo, também se dará conta de que está na hora de desejar outra coisa. "Esse mecanismo sustenta ao mesmo tempo, um sistema mercadológico, o capitalismo moderno e o nosso desejo que não se esgota nunca." Neste sentido, está certo o terapeuta, quando nos diz que   "a felicidade, em si, é uma preocupação desnecessária.". É preciso repensar como são feitas as escolhas. Há um desejo de viver uma aventura, no entanto, para Calligaris , os sonhos estão pe...

Ser feliz para ser feliz

Ontem li uma crônica antiga de Danuza Leão em que ela fala sobre a obrigação que muita gente se impõe de ser feliz. Descreve um episódio de uma mulher que pega um táxi para encontrar-se com amigos num restaurante lindo e caríssimo da cidade, e que não se sentia muito bem, não estava muito animada para o programa, mas achou que ao tomar uma bebida, tudo passsaria. O trânsito muito ruim, ela começa a observar o taxista, um cara jovem, calmo, olhando várias vezes para o relógio. Ela deduziu, então, "alguém deve estar esperando por ele" . E vai imagiando no que aquele homem poderia pensar ou querer para sua vida. "Teria planos para o futuro?" Planos de melhorar de vida e poder ir a uma pizzaria aos sábados, tomar cerveja, voltar para a casa e dormir abraçado com a mulher?" Ela, por sua vez, já no restaurante, mesmo estando com aqueles amigos, não conseguia deixar de sentir-se entediada, mesmo depois das bebidas, como esperava. Ria das histór...

Afetos e rupturas

"Todo vínculo que criamos com alguém é o embrião de uma ruptura." (Flávio Gikovate)  Já escrevi várias vezes sobre rupturas, que são necessárias, porque nada se perpetua, tudo muda, tudo está em constante movimento, em constante transformação, inclusive nossa vida e nossas relações. E sua fala foi além, pois ele afirma que no momento em que nasce uma relação nasce também o seu fim. Entendo que relacionamentos não são eternos, e era exatamente a isso que ele se referia. Mas, quem se apaixona e inicia uma relação, é claro, não vai pensar em seu fim. E quando se pensa nisso, então? Bom, isso vai-se descobrindo com o tempo, com a convivência. Os casais vão criando certas regras de forma tácita, fazendo acordos. Se ambos são pessoas com grande afinidade e objetivos comuns, esses acordos são mais fáceis, são alinhavados com o amor e o companheirismo, a admiração e o respeito, características daqueles que conseguem relações estáveis e duradouras. Ao contrár...

Difíceis desculpas

Mais de uma vez escrevi neste blog sobre o perdão e o esquecimento e, lendo uma matéria de capa do caderno Equilíbrio da Folha , cujo título era  "Mil Perdões" , tive vontade, então, de falar das desculpas. Desculpas que nem sempre se pedem nem sempre são aceitas. Você que aí me lê, costuma pedir desculpas? Em uma época em que vemos disseminadas ideias como a importância da gentileza, que gera gentileza, a necessidade da gratidão pela vida, pelo que se é e o que se tem, entre outras atitudes necessárias para nosso próprio bem-estar e que tornam  nossas relações interpessoais mais sadias, pergunto-me onde ficam os pedidos de desculpas... Sim, pois ser gentil, dizer "bom dia", "boa noite", "obrigada", "por favor" são atitudes que devem fazer parte de nossa educação e, cá pra nós, são mais fáceis. Não falo, aqui, daquelas desculpas que pedimos por alguma pequena falha, algum esquecimento, um atraso, ações que não deveriam a...

Emoções em equilíbrio

Li, há pouco, um texto de Ivan Martins a que ele intitulou "O mar de emoções" em que ele trata de certo tipo de relacionamento cujos parceiros encontram grande dificuldade de entendimento. Pequenas discordâncias são motivos para grandes brigas. Diz ele que, nessas ocasiões a racionalidade lhe parece   "camada muito fina do que nos faz humanos" . E completa: "sob a película da lógica e das palavras, move-se dentro de nós um mar de emoções que nos comanda", e "elege nossas disputas e define as nossas afinidades" . Gostei bastante de suas colocações, pois existem mesmo tais relacionamentos   em que a razão parece não predominar em momentos em que bastasse relevar palavras ou repensar atitudes e tudo seria diferente. A esse mar de intensas emoções que toma conta das pessoas fazendo-as ora se atraírem, ora se oporem é o que entendo ser um desequilíbrio de emoções. Talvez, o que os atraia esteja nesse mesmo ponto de desequilíbrio. As atrações...