Li, há pouco, um texto de Ivan Martins a
que ele intitulou "O mar de emoções" em que ele trata de certo tipo
de relacionamento cujos parceiros encontram grande dificuldade de
entendimento. Pequenas discordâncias são motivos para grandes brigas. Diz ele
que, nessas ocasiões a racionalidade lhe parece "camada muito fina do que nos faz
humanos". E completa: "sob a película da lógica e das palavras,
move-se dentro de nós um mar de emoções que nos comanda", e
"elege nossas disputas e define as nossas afinidades".
Gostei bastante de suas colocações, pois existem mesmo tais relacionamentos em que a razão parece não predominar em momentos em que bastasse relevar palavras ou repensar atitudes e tudo seria diferente. A esse mar de intensas emoções que toma conta das pessoas fazendo-as ora se atraírem, ora se oporem é o que entendo ser um desequilíbrio de emoções.
Gostei bastante de suas colocações, pois existem mesmo tais relacionamentos em que a razão parece não predominar em momentos em que bastasse relevar palavras ou repensar atitudes e tudo seria diferente. A esse mar de intensas emoções que toma conta das pessoas fazendo-as ora se atraírem, ora se oporem é o que entendo ser um desequilíbrio de emoções.
Talvez, o que os atraia esteja nesse mesmo
ponto de desequilíbrio. As atrações, os sentimentos, as paixões e os
consequentes desentendimentos vibram todos numa mesma sintonia - a do
desequilíbrio. Uma intensa afinidade emocional que desequilibra. E de tão
intensa chega a ser difícil lidar com ela. E, acredito, com pessoas assim, com
emoções intensas, tornam-se difíceis os acordos, os acertos, as atitudes de
companheirismo e do pensar no outro e em ambos mais difícil ainda. Como
descreve o autor há somente atitudes destrutivas e autodestrutivas.
E penso que mesmo que um dos companheiros
tenha mais fortes emoções, o outro sempre sofrerá, porque não percebe que
também participa de tamanhos descontroles. Relacionamentos assim têm início e
fim avassaladores, momentos tão bons e tão ruins, paradoxalmente. Cada
pessoa que aceita tacitamente um relacionamento assim, percebe com que tipo de
parceiro está se relacionando. Entra no jogo e o aceita.
Todo tipo de relacionamento mexe muito com
nosso emocional, seja nas relações em família, no trabalho, entre amigos; mas o
que os difere do relacionamento amoroso é a afinidade que ambos possuem; a
intensidade dos sentimentos; e a intimidade que os une profundamente. E, nesse caso, de uma
grande paixão é preciso cultivar um sentimento maior, intenso também, mas
pacífico que leve ao companheirismo, à amizade, ao cuidado do outro, ao carinho
e a um querer bem que faz esquecer-se de um pelo outro para que ambos possam
fazer trocas. E somente trocas desse tipo podem sustentar a convivência que
sempre passará por dificuldades, pois as diferenças existem. Mas, quando se
pensa que há algo maior e melhor a nos unir e fazer bem - como o amor é capaz-,
as emoções mais intensas tendem a ser mais serenas.
Esse é um longo exercício de um e do
outro, individualmente, mas também em conjunto, pois deseja tudo isso quem
acredita que pode ser feliz cedendo em pequenos egoísmos e orgulhos bobos, para
ganhar em muita generosidade. Deixa-se de pensar somente na primeira pessoa
para se chegar ao plural.
Então, volto ao texto de Ivan
Martins no ponto em que ele fala dos casais cujas relações são
duradouras e que para estes, acredita, há o que ele denomina um "fenômeno
de compreensão profunda”, e ainda, "uma conexão silenciosa de
personalidades que produz ao mesmo tempo conforto e intensidade".
Diz ele que são emoções profundas que se
comunicam. Gostei disso, mas eu diria que nesses casos há emoções em equilíbrio, e talvez
por isso consigam ser profundas e tão benéficas para ambos.
Cabe a todos que desejam um relacionamento
bom, sadio e prazeroso verem que é necessário o amor, sim, mas também esse
exercício de aprimoramento pessoal constante a nos fazer ver a importância do
outro em nossa vida, e juntos poderem contemplar muita felicidade. Afinal é
isso que todos buscam, não é mesmo?
Rita Ribeiro
"O mar de emoções", artigo de Ivan Martins, publicado em 08/05/2013,
Revista Época
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