Em minha recente mudança, minha mãe viu um livro, veio me dizer que queria levá-lo para ler. É um livro de crônicas e receitas alternativas, intitulado "Meditando na Cozinha". As receitas são bem diferentes, porque são usados ingredientes que foram pesquisados pela própria autora, Sonia Hirsh.
Uma da histórias que ela conta é a de um homem cujo cavalo estava doente. Tinha câncer em uma de suas pernas e precisava ser sacrificado. Como era muito religioso, não tinha coragem de tomar essa atitude, e, com dó do animal, resolveu soltá-lo, para que ele fosse viver seus últimos dias junto à natureza, menos triste ou sofrendo menos, talvez. E o cavalo se foi.
Todos os dias, seu dono o observava de longe e percebeu que ele se alimentava sempre de uma pequena vegetação que havia num canto do pasto. Três semanas depois, ainda observando seu antigo animal, notou que ele estava diferente e pôde perceber que o câncer havia estancado e, de alguma forma curado.
Intrigado com o fato, resolveu pesquisar aquela vegetação da qual o cavalo se alimentava e depois de tempos de pesquisa, descobriu ali o remédio que curaria o câncer de muitos animais. Conta a autora e pesquisadora que essa história é verídica sem entrar no mérito da pesquisa da cura do câncer. Mas diz que os animais, por instinto, conhecem a vegetação que lhes fazem bem.
Isso é certo, pois já pude verificar gatos e cahcorros que tive, que procuravam sempre algum tipo de matinho nos jardins, e posteriormente, eu me certificava de que a ingestão da vegetação lhes fazia bem.
Diz ela que "a única explicação é que bicho já nasce sabendo. Ao contrário de nós, humanos modernizados: fazemos até questão de ignorar certas comidas que, apesar de ótimas não são valorizadas pela cultura".
E eu, diante dessa história, fiquei pensando, não na alimentação somente, mas na questão da liberdade que o animal tem de escolher e, nós, não. Nós que somos seres racionais, somos capazes de tirar a liberdade de um animal para tê-lo a nosso servir, para nossa companhia ou para fazê-lo cantar, prendendo-o junto de nós. Mas, apesar disso, somos seres que não sabem ser livres. Estamos sempre escolhendo o que todos escolhem, agimos como todos agem. Passamos pela porta estreita, o caminho mais fácil, o caminho mais cômodo, por que todos passsam. Mas por quê?
Não nos indignamos; não vestimos o que gostamos, mas o que está na moda; não somos autênticos; não somos nós mesmos. Precisamos estar 24 horas conectados aos nossos celulares; não conversamos mais, não nos olhamos nos olhos; não nos damos as mãos; não nos abraçamos.
Não paramos para analisar, mas apenas para julgar; temos pressa, precisamos viver intensamente o agora. Mas viver o agora seria mesmo isso?
Nosssa liberdade é muitas vezes limitada pelas circustâncias de nossa vida. Mas, paradoxalmente, muitas vezes, nós mesmos nos limitamos em nossas escolhas. Somos racionais, mas vivemos por instinto. Nossas atitudes não passam pelo filtro de nossos sentimentos e vontades. Agimos por automatismo. Não paramos para pensar, sentir, buscar a vontade de sermos seres melhores. E será que temos essa vontade?
Estamos vendo as pessoas vivendo no raso, naquilo em que é mais fácil serem aceitas; no que é mais fácil se protegerem. Mas de quê? Ou de quem? Talvez de si mesmas... E nesse viver não se vive, morre-se um pouco a cada dia.
Por isso é preciso renascer. É preciso vontade de ser o que se é ou que se precisa ser. Sair do limbo, da lama. Ou, em vez disso, da lama ser semente e brotar, tornar-se aste, planta, flor. E sentir o sol, a brisa, a chuva; e sentir o beijo de um beija-flor. É urgente a liberdade de ser, de ser de verdade. Verdade de cada um.
"Que todos possam ter felicidade e suas causas." diz Sônia Hirsh.
Rita Ribeiro
Comentários
Postar um comentário