Para Vinícius, o poetinha, não, pois na bela letra da canção Wave ele declara ser fundamental o amor e "impossível ser feliz sozinho". Pois é... E ontem li um texto de Martha Medeiros em que ela levanta essa questão, dizendo que bem que gosta de ficar sozinha. Conta ela: "já tive ótimos momentos comigo mesma dentro de um trem, em frente ao mar, lendo um livro. Mas reconheço que os momentos sublimes, aqueles eleitos como inesquecíveis, aconteceram quando eu estava 'avec'”, e continua: "estando sozinhos, a sensação interna sobre o que está sendo vivido é quase melancólica, mesmo que não seja".
Achei lindo tudo isso. E é exatamente assim. Existem momentos em que queremos estar sozinhos, são fases em que a solidão é estar em companhia de nós mesmos, de refletir, de sermos nós. Porém, esses são momentos apenas, não acredito em quem diz que prefere a solidão como companhia. Uma solidão querida, escolhida, pretendida. Não creio.
Coincidentemente, nesta semana, a psicanalista Betty Milan escreveu um artigo na revista Veja intitulado "A completude não existe", em que trata da impossibilidade do que chama de "completude", ou seja, a busca de homens e mulheres pelos seus pares que os completarão. Para tratar do assunto, ela cita Lacan, psicanalista francês, para quem "o amor é o desejo impossível de ser um quando há dois", porque somos seres diferentes uns dos outros, com desejos, anseios e vontades que nunca coincidem inteiramente. E se pararmos para refletir, veremos que muitos dos desencontros entre homens e mulheres são exatamente por esse motivo. E natural que o seja.
Para Betty a única forma de se tornar possível e até perpetuar-se uma relação é a sua renovação através da liberdade que quem ama pode dar ao seu amante. Para isso não pode haver egoísmo, pois que "incompativel com o amor", conclui. Sabemos bem disso, pois são esses os problemas que angustiam e causam tantas dores numa relação amorosa em que um não compreende o outro verdadeiramente. E não é algo fácil, mesmo.
Isso tudo fez meu pensamento me levar a um artigo lido há alguns anos: "A química da paixão", o qual trata das diversas alterações químicas por que passamos quando nos apaixonamos. Os batimentos cardíacos, a transpiração, a dilatação das pupilas, os tremores e rubores que acontecem nos momentos de grande paixão nascem de processos ocorridos em nosso cérebro. Nesses momentos de atração há uma grande liberação de neurotransmissores, como a endorfina, a dopamina entre muitos e muitos outros responsáveis por todas as sensações de prazer e felicidade que sente quem está apaixonado.
Estudos demonstram, ainda, que após essa grande liberação de hormônios do momento da paixão, segue-se uma queda na produção deles, ou seja, um segundo momento ocorre, para que possa surgir entre o homem e a mulher o desejo de companheirismo, o apego, a vontade de criar seu ninho, procriar e criar a prole - fases seguintes. Talvez aqui, possamos imaginar o momento da transformação da paixão em amor.
E, por incrível que pareça, há quem ainda consiga bloquear esse processo que ocorre em nosso cérebro, ativando áreas mais racionais dele, por medo ou insegurança, descoberta essa de um psiquiatra, especialista em depressão e ansiedade. Poderíamos imaginar, então, que isso pode ser o que ocorre àqueles que não querem ou não conseguem se entregar a um grande amor. É, talvez. A natureza é realmente impressionante, pois tais descobertas mostram que tudo tem um sentido e um propósito.
Podemos, então, dizer que é possível ser feliz sozinho? Eu não sei. Nossa natureza nos leva a determinados caminhos. Percorrê-los é nossa escolha. E na imensa sabedoria do Criador, o Universo conspira para que encontremos a pessoa que nos fará sair do sério através da paixão avassaladora que nos aproxima do ser que, de forma sublime, amaremos depois, pois como diz Betty Milan, "a paixão cega, mas o sentimento amoroso ilumina".
Quem acha possível viver feliz sozinho, talvez não consiga lidar com a liberdade - luta contra o egoísmo -, grande aprendizado que os relacionamentos nos proporcionam. E se é esse aprendizado que se busca para ser feliz, a "completude" a que se refere a psicanalista é possível, sim! Ainda mais se percebemos como Martha Medeiros que, "juntos, até o que não parece alegre, fica".
Artigos citados:
- A completude não existe, Betty Mylan, Revista Veja, abril de 2010
- A química da paixão, Emoção e Inteligência - Superinteressante Especial, Edição 8
- É impossível ser feliz sozinho?, Martha Medeiros, Zero Hora
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Hum post cheio de coisas a se pensar. Mas se fosse comentar tudo o que li aqui, eu acabaria fazendo hum novo post dentro dos seus comentários. :) de qualquer forma tudo é muito interessante e muito oportuno... gostei de ler.
ResponderExcluirSabe... nós somos seres curiosos demais, não acha? Desde o tempo em que inventávamos mitos para tentar explicar a nossa própria natureza... hoje usamos física e química... mas no fundo a busca ainda é a mesma.
Agora, o que eu te digo sobre a solidão é que, todos nós precisamos de testemunhas da nossa vida... para ao menos passar por ela e poder dizer que fez algum sentido.
Hum beijo grande!
Procurando um blog com assuntos leves,interessantes que me chamassem a atenção pra seguir vim conhecer o seu.Desde já seguindo da Itália,Bergilde
ResponderExcluirConcordo com o colega aí, comentar tudo é escrever outro post, ou sej, fora de cojitação...
ResponderExcluirMas quanto ao foco: Solidão é triste, mesmo que seja necessária, pra mim nunca conseguirei me entender comigo, pois não gosto de solidão, eu me entedio...^^