Você já parou para observar se fala muito de si? Sim, pois existem pessoas que têm a característica de falar muito a respeito do que pensam, gostam de dar suas opiniões, estão sempre falando de si. São pessoas comunicativas, que possuem a facilidade de se expressar.
E como sabemos, o mundo das palavras e a capacidade de se expressar bem nos possibilita a troca de ideias, de adquirirmos conhecimento, de aprendermos e criarmos.
No entanto, em um artigo publicado na Folha de S. Paulo*, a neurocientista e professora Suzana Herculano-Houzel conta que "de 30% a 40% da fala cotidiana trata de experiências próprias ou relacionamentos" e que 80% do que se publica nas mídias sociais servem para "irradiar ao universo a vida pessoal de cada um", como ela mesma diz. Muita coisa, não?! Infelizmente, pelos números se vê que temos usado palavras de mais para expressar conhecimento novo de menos. Poderíamos estar criando mais e sendo mais produtivos.
Mas a neurocientista diz que, apesar disso, há um lado positivo no fato de as pessoas gostarem de falar de si. Sim, pois como ela afirma, falando de nós, trocamos ideias, compartilhamos experiências e aprendemos uns com os outros - um benefício para a evolução desse hábito de falar de si e a garantia de sua perpetuação.
Conta, ainda, sobre interessante estudo da Universidade de Harvard que demonstra através de experiências com voluntários, e usando aparelhos de ressonância magnética, que os pesquisados sentem prazer ao falarem de si. É que os pesquisadores conseguem observar quais as regiões do cérebro são ativadas, se os voluntários falam de si, de hábitos de outras pessoas ou de quaisquer outros fatos. O estudo demonstra que o hábito de falar de si vem "de uma preferência real com origens no sistema de recompensa do cérebro", ou seja, uma área em que ficam registradas e armazenadas todas as experiências em que tivemos sucesso, ou frustração - como uma memória -, e que nesses momentos em que, ao falarmos de nós e situações já vividas que nos fizeram bem, nossos neurônios podem identificá-las, e, então, liberar doses de dopamina, substância ligada ao prazer.
Percebeu-se, ainda, que quando chamados a participar novamente desse tipo de experiência, os voluntários, caso possam optar por falar de si ou de outras situações, preferem repetir a mesma experiência falando de si, ainda mais se saberem que outras pessoas os ouvirão.
Parece que, ao falarmos de nós e nossas experiências, temos a oportunidade de reviver, de alguma forma, uma alegria, um prazer, uma satisfação, mesmo sem percebermos.
E fico, aqui, pensando e associando essa ideia ao fato de nossos avós e tios, já com idade avançada, gostarem de contar as histórias que ocorreram em suas vidas. E as repetem sempre para nós... Isso até me faz lembrar de meu pai, que sempre contava muitas histórias dele e outras que ele havia vivido com meu avô e a família. Estava tendo prazer ao compartilhar suas experiências.
E, se falar de si é bom, que prazer devem viver os escritores e poetas que vivem criando ou recriando, com as palavras, as suas histórias, e mesmo as que nem são suas, mas suas criações (e por isso, também tão suas!), e transformando as palavras e entrelinhas em algo tão belo que tornam as nossas vidas - seus leitores -, sempre tão prazerosas também!
Pois é... E a neurocientista e escritora lembra, ainda, que não é à toa que a liberdade de expressão é por tudo isso bastante valorizada, não só por ser um valor sociocultural, mas porque "o prazer de expressar os próprios pensamentos e o estado de espírito é real e vem lá dos cafundós do cérebro".
Falemos de nós, então!
Rita Ribeiro
* "Deixa eu falar de mim!", artigo de Suzana Herculano-Houzel, publicado no caderno Equilíbrio do jornal Folha de S. Paulo, de 31/07/2012
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