As festas de fim de ano já se passaram e ainda leio pela internet frases de pessoas que veem o Natal como algo entediante, chato e que, me parece, se pudessem apagariam esses dias dos seus calendários.
Conheço pessoas que não gostam dessa época, algumas porque se entristecem, outras porque veem que Natal virou sinônimo da dar e receber presentes simplesmente.
Eu sempre gostei das festas de fim de ano e sempre gostei muito de comprar presentes.
Saio pensando em que cada um gostaria de receber. Penso nos gostos, nas cores favoritas, nas diversas preferências. Para uns é fácil; para outros, muito difícil. Mas é sempre bom presentear.
E acredito que, se fazemos, porque gostamos, imprimimos carinho no que compramos e mesmo que não acertemos tanto na escolha feita, a intenção vale bastante; e se acertamos, é muito gratificante ver a pessoa gostar daquilo que escolhemos.
E escrevo isso, porque hoje, lendo uma crônica* que Ivan Martins escreveu dias antes do Natal, achei curiosa a colocação que ele faz a respeito das pessoas que se irritam com o fato de terem que sair para fazer compras de Natal, pois segundo ele, a grande dificuldade da maioria das pessoas é colocar-se no lugar do outro para saber o que comprar. Isso, porque estão todos muito voltados para si mesmos, "autocentrados e tão intensamente preocupados consigo mesmos", como diz ele.
Existem pessoas que não gostam de fazer compras e adoram, se alguém as fizer para elas. Talvez essas pessoas simplesmente não tenham jeito para isso, o que não quer dizer que não gostem de presentear.
Confesso que não gosto de lojas cheias, filas, demoras. Isso é irritante mesmo. Talvez toda essa dificuldade que encontramos é que faça muitas pessoas perder o encanto de ir às compras.
E é claro, há também aqueles que não estão nem aí, compram qualquer coisa e está tudo bom! Isso tudo é reflexo de como as pessoas são e como agem na vida. Aí, concordo com o escritor que, com o que diz, quer mesmo é salientar que estamos vivendo dias de muito egoísmo, de pessoas que pensam somente em si mesmas.
Diz ele que o melhor presente de Natal é "o sentimento que vem com ele", o que é imaterial e que hoje, se pudesse, ele daria uma caixinha com os sentimentos que cada pessoa, segundo seu julgamento necessitasse mais no momento.
Gostei muito disso, pois pensar no outro é, para mim imprescindível, se desejo que meu presente agrade. Assim vejo que, como diz o escritor, leva sentimento com ele. E por isso também, veio-me à mente algumas vezes em que pequenos desentendimentos meus com minha mãe acabaram se desfazendo com ela aparecendo com um presentinho que conta ter visto em alguma loja em que passou... E me entrega para que tudo volte ao normal - e isso é melhor que qualquer pedido de desculpas forçado -, pois sinto que aquele presentinho vem com o sentimento dela. O mais importante.
E voltando à crônica que li, Ivan Martins descreve três presentes de que as pessoas mais precisam atualmente, coisas imateriais que esse mundo tumultuado está tirando das pessoas. Em primeiro lugar, a capacidade, ou dom, de esquecer e perdoar. Capacidade de virarem a página, deixarem as tristezas no passado para serem felizes e conseguirem recomeçar.
Em segundo, a capacidade de escolherem melhor seus afetos, aliás, algo de que já falei neste blog. A busca incessante e ansiosa por um amor tem feito as pessoas amarem mal, amarem pouco e errado e, consequentemente, sofrerem cada vez mais.
Por último e, talvez o mais importante, a capacidade de serem mais altruístas, pessoal e coletivamente, e doarem-se mais. Resume assim o cronista os "presentes invisíveis" que distribuiria para as pessoas.
E se pararmos para analisar esses três "presentes" a que o escritor se refere, nada mais são que valores sobre os quais deveríamos fazer uma reflexão não só nessa época, mas em todos os dias de nossas vidas, que é sabermos perdoar mais, amar mais e doar mais de nós.
Quando conseguirmos agir mais dessa forma, já teremos conseguido um mundo melhor a partir de nossos sentimentos. Não é preciso ser tão religioso ou ser dotado de grande fé para verificar que, no final das contas, é nisso que está o espírito do Natal. E como ele já passou, que então exercitemos essas nossas capacidades no ano que já se iniciou.
Rita Ribeiro
*"Presentes Invisíveis", crônica de Ivan Martins, editor-executivo da Revista Época
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