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Esquecer para ser feliz

Assisti a um episódio do seriado americano House em que o médico (que dá nome à série) tenta diagnosticar o problema de uma garçonete que chega ao hospital, em virtude de uma série de desmaios que, sabe-se depois, são decorrentes de lembranças intermitentes que ela tem ao ver as pessoas. Essas diversas lembranças desgradáveis que lhe vêm à mente, de forma recorrente, a transforma em uma pessoa triste e rancorosa, além de causar a ela, ainda, um problema cardíaco e, posteriormente uma falha no funcionamento dos rins. 
O episódio mostra, simbolicamente, a dificuldade de se viver ou conviver, se as lembranças que se tem das pessoas, sejam amigos ou familiares, são sempre ruins, sempre tristes.
Um dos médicos, ao presenciar a tentativa de sua irmã em uma reaproximação, chega a dizer que entende a vida solitária que ela leva naquela lanchonete em que trabalha longe de todos e tenta alertá-la ao dizer que ela "não sabe perdoar, não esquece o que lhe fazem e é por isso que não consegue lembrar das coisas boas". E mesmo ouvindo isso, ela acha que não tem escolha. 
E eu, vendo a série, comecei a imaginar quantas pessoas existem por aí, tristes, porque talvez não esqueçam e não perdoem o que, um dia, lhe fizeram de mal. Pensar no que é ruim, sentir que se é vítima e alimentar lembranças e pensamentos negativos sobre si e os outros é a receita perfeita para desenvolver problemas de convivência, que atrapalham a vida. Para muitas pessoas algumas decepções já são motivo de muita amargura e tristeza, além do fim do convívio sadio das pessoas que as amam. 
Pois é... E voltando ao episódio de House, depois de muitos exames e discussões com sua equipe, ele descobre o problema de sua paciente: um caso raro de TOC - transtorno obsessivo compulsivo - que afetava seu cérebro e causava também os demais problemas físicos que tinha. No entanto, a doença parece não ter cura, apenas controle através de medicação. Mesmo assim, a paciente hesita, pois para ela suas lembranças intermitentes são a única coisa que a faz especial, diferente das outras pessoas. "Mas se quiser ser especial, será sempre sozinha", diz o médico a ela. 
Todos temos escolhas, por mais que elas pareçam não existir e só depende mesmo de vontade. No caso, ela começa a tomar o remédio, contrariada, pois vai passar a ter lembranças como todas as pessoas têm. Seria agora uma pessoa normal, comum; mas talvez fosse feliz ou sofresse menos.
Nossas lembranças são poderosas demais, pois são carregadas das emoções das experiências boas e más que vivemos. 
Assim, se pudermos escolher por "controlar" sentimentos e pensamentos; tentar esquecer o que não gostamos; e cultivar o que a vida e as pessoas à nossa volta têm de bom a nos oferecer, certamente teremos melhores lembranças e um melhor convívio no nosso dia a dia. Teremos mais momentos felizes e nos sentiremos mais leves.


Leia também:
Memórias, emoções e esquecimento, publicado em 21-05-2009
Você é capaz de perdoar?, publicado em 03-09-2011

Comentários

  1. Huma pessoa me mandou, recentemente, huma entrevista com o neurocientista Iván Izquierdo, onde ele dizia que o esquecimento é fundamental. E eu achei interessante a argumentação dele. Afinal, algumas lembranças se tornam hum estorvo se permanecerem muito tempo na memória. Mas esquecer também não é huma opção. Vc esquece de algo porque se deixa aberto para a oportunidade de outra coisa ocupar o lugar daquela lembrança ruim, antes que ela seja gravada definitivamente na memória. Esquecer simplesmente, porque vc decidiu esquecer... não acho possível. A própria decisão ou tentativa de esquecer já reativa a tal da "memória indesejável".
    O importante é, sim, deixar que as boas lembranças ocupem esses lugares... mas para isso é necessario viver intensamente a vida e se deixar sempre aberto para o novo.

    Tava com saudades de vir aqui! :)

    Beijo grande!

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