Um dos significados principais de um ritual, de acordo com a antropologia e a teologia, é presentificar o passado. Ao repetir gestos, hábitos, palavras e encontros, nas mesmas datas e com regularidade, um grupo social atualiza o que passou, "emboscando" a passagem do tempo e contribuindo para impedir a dissolução da comunidade. Volta-se a ser quem já não está mais, volta-se a viver — como por mágica — numa manjedoura, no deserto, no campo. A comunhão não é só com quem está presente, mas com tempos, espaços e comunidades ausentes e a entrega do praticante ao ritual é o que permite essa abstração. É certamente daí que vem a ideia de "presente", aquilo que se oferta ao outro, com o sentido de tornar presente, intensificar o agora da doação e da recepção, como carimbo do encontro e da repetição. Dessa forma, o fim de um processo — de uma colheita, de um giro em torno do sol — significa o começo de outro. Como dizia Padre Antônio Vieira , "a vida é um círculo que
Cada encontro está carregado da perda, ou de perdas. Às vezes duas pessoas que se amam (casados, solteiros, amantes, namorados) se encontram e são felizes. Ao fim da felicidade um deles chora, ou fica triste, ou baixa os olhos, ou é invadido por inexplicável melancolia. É a perda que está escondida no deslumbramento de cada encontro. O encontro humano é tão raro que, quando surge, vem carregado de todas as experiências de desencontros que a pessoa já teve e que a espécie já sofreu. Quando você está perto de alguém e não consegue expressar tudo o que está claro e simples na sua cabeça, você está tendo um desencontro. Aquela pessoa que lhe dá um extremo cansaço de explicar as coisas, é alguém com quem você se desencontra. Aquele que só emite, pouco lhe dando condições de intercalar os seus pontos de vista, é outro com quem você se desencontra. Aquele a quem você admira tanto, que lhe impede de falar, também é um agente de desencontro, por mais encontros que você ten