Li uma crônica intitulada "Eternas
são as nuvens", em que a escritora Hilda Lucas se
questiona, de maneira singela, para onde vai tudo o que se viveu num
relacionamento que termina. "Para onde vai a mágica de certos
instantes? A comunhão que se viveu, a cumplicidade de dividir tempo, espaço,
experiências inaugurais? Para onde vão o carinho, a parceria, a entrega? Para
onde vai o conhecimento, pessoal e intransferível, que se tinha do outro?" E
eu achei muito interessante esse questionamento. Cada um de nós poderia
imaginar um lugar e ter respostas diferentes para isso.
Mas o que é bonito nesse questionamento é
pararmos para refletir em tudo o que vivemos com diferentes pessoas. Será que
guardamos tudo isso? Valorizamos? Esquecemos? Onde está tudo isso?
Para a autora tudo vai para alguma nuvem,
algum lugar interno, talvez, uma nuvem a que ela nomeia "weCloud",
fazendo alusão ao iCloud,
um aplicativo em que se pode armazenar determinado conteúdo de forma virtual, como fotos,
músicas e contatos, entre outros.
Imagino que essas nossas vivências e o
conhecimento que delas adquirimos e que é só nosso (meu e do outro), acaba se
diluindo no jeito de ser, sentir e pensar de cada um. De particular passa a nos
fazer crescer. Dá-nos um upgrade na visão que temos do mundo. Ninguém passa
imune a isso. "Tudo o que
vivemos e sentimos vira acervo, fonte, ferramenta", como ela mesma
diz.
E o que ela expõe, vem ao encontro do que
penso. Situações vividas com outra pessoa com a qual se teve intimidade e cumplicidade
só podem ser compreendidas por ambos, e revividas e relembradas para sempre,
como os planos que se sonhou junto, o apoio nos maus momentos e a torcida por
conquistas, as manias, aquilo que nem se precisava dizer, as tristezas, as
alegrias e até as decepções.
O que se viveu nos fez aprender como lidar
com as emoções, como somar, como dividir, como perder; como valorizar as perdas
e os ganhos. São nossas memórias, sim, a história de nossa vida. E a cada
pessoa que parte, outra chega e já somos outros para nova história, nem melhor
nem pior, mas outra.
E foi aí que me lembrei de uma crônica de Ivan Martins, em que ele conta
lamentar-se ter perdido o contato das mulheres que passaram por sua vida,
quando vê seus amigos que mantêm a amizade de suas ex-mulheres. Aliás, sobre o
que diz também escrevi um post aqui no blog.
Lembrei-me dessa crônica dele, talvez
porque tanto quanto o de Hilda, Ivan trata da importância que tem o outro
em nossas vidas. Diz Ivan
Martins que tudo que
realizamos durante a vida é compartilhado com alguém. Diz ainda que, muitas
vezes, "a pessoa passa
pela nossa vida e, por força
das memórias que insistem em voltar, a gente percebe que ela sobrevive em nós".
É certo, cada um que passa por nossa vida faz uma troca conosco, deixa algo e leva também. E é assim que aprendemos a
construir, com companheirismo e cumplicidade. Aprendizado que se tira de cada experiência vivida e com cada pessoa que conhecemos,
pois cada uma é uma pessoa única, como nós somos únicos também.
Hilda Lucas exemplifica isso de forma bastante interessante ao dizer que "Maria é para João uma Maria que ela nunca será para Pedro, que é um Pedro para Maria, que nunca será o mesmo para Ana. Maria poderá ser muito mais feliz com Pedro do que João, mas ela terá sido a Maria do João e haverá sempre um lugar onde Maria e João se reconhecerão, mesmo que nunca mais se encontrem". Daí porque escrevi em meu texto que a ausência das "ex" de Ivan Martins em sua vida "não são uma perda", e "as experiências que teve com elas serão sempre únicas e estarão sempre intactas" em algum lugar de sua história, do seu ser, do que ele é hoje.
Hilda Lucas exemplifica isso de forma bastante interessante ao dizer que "Maria é para João uma Maria que ela nunca será para Pedro, que é um Pedro para Maria, que nunca será o mesmo para Ana. Maria poderá ser muito mais feliz com Pedro do que João, mas ela terá sido a Maria do João e haverá sempre um lugar onde Maria e João se reconhecerão, mesmo que nunca mais se encontrem". Daí porque escrevi em meu texto que a ausência das "ex" de Ivan Martins em sua vida "não são uma perda", e "as experiências que teve com elas serão sempre únicas e estarão sempre intactas" em algum lugar de sua história, do seu ser, do que ele é hoje.
Se analisarmos nossos
relacionamentos, tanto os bons, quanto os piores momentos causaram em nós algum
efeito - bom ou nem tanto, mas que, como consequência, nos serviram de
aprendizado, mesmo tendo sido com a ajuda do tempo. Como diz, sabiamente a
escritora, "é fundamental
que cuidemos da nossa história, que saibamos acolher nossas experiências com
generosidade". E eu, humildemente, acrescento: sem nunca nos
arrependermos nem nos culparmos.
Fico, então, imaginando que todos esses
conhecimentos pessoais e intransferíveis, tão nossos; desconhecidos dos outros,
conhecidos e entendidos somente por aquela pessoa em especial; estão em nós,
são o nosso ser, nossa identidade, formam o que somos hoje; abertos, ainda, a
novas aquisições, mudanças e transformações. E armazenados em nosso ser, talvez
em nossa mente, nossa alma, nosso coração, no inconsciente ou como se queira,
esse conteúdo nos faz crescer e aprender um pouco mais da vida. E ter essa compreensão faz com que vejamos
nossos relacionamentos através de outro prisma, aquele que nos faz perceber a
beleza e a importância que há nessa oportunidade de compartilhar experiências
de vida com alguém.
Rita Ribeiro
Crônicas citadas:
"Eternas são as nuvens", de Hilda Lucas, publicada na Lola Magazine, de outubro de 2012;
"O outro que há em nós", de Ivan Martins, publicado na Revista Época, em 12/10/2011;
"As pessoas da nossa história", post publicado por mim neste blog em 11/12/2012.
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