Todos nós já ouvimos alguém dizer que só atrai parceiros difíceis, que sempre doa mais que recebe, que mergulha nas relações, mas não vê o mesmo do outro, como se tudo isso fosse um fardo, um carma, uma coisa do destino. E essas mesmas pessoas acabam por se mostrar como vítimas daqueles com quem se relacionam.
No entanto, pergunto-me: uma relação não se faz de dois? Dois que se amam, dois que buscam carinho, dois que depositam confiança um no outro, enfim, dois que querem o bem do outro, como para si mesmos?
Relacionamentos, além de amor, dependem de compreensão, respeito, companheirismo e o cuidado de ambos. Então, o que acontece nesses casos em que um sempre tem a sensação de dar mais e não receber na mesma proporção?
Hoje, vemos tanto desencontro entre homens e mulheres; ouvimos alguns clichês do tipo "elas não querem mais nada sério..." ou "os homens são todos iguais..."; e acaba-se por fazer dessas ideias uma crença, e as tomam como verdades, tanto homens, quanto mulheres. E será que é tudo assim? Talvez exista um grande descompasso entre o que mulheres e homens desejam de um relacionamento. Porém, ninguém é igual.
Somos pessoas únicas, indivíduos com vivências e experiências diversas, por isso somos diferentes uns dos outros. Talvez essa seja, hoje, a grande dificuldade entre os casais: serem pessoas diferentes. Talvez tenha sido sempre, no entanto, antes, um dos companheiros aguentavam calados a vida toda sofrendo, sentindo tristeza, angústia, culpa, entre outros tantos sentimentos que os faziam infelizes. E geralmente eram as mulheres...
Hoje, as pessoas aprenderam que podem tomar atitudes; separaram-se, se a relação não satisfaz mais, se o sofrimento é maior que o bem-estar ou quando o amor chega ao fim. Porém, se ao buscar novo relacionamento, tudo mudar, ótimo, o problema era a relação, a falta de amor ou outro problema qualquer que só se resolveria com a separação.
No entanto, vemos pessoas que continuam a buscar relacionamentos e sempre difíceis. Continuam reféns de companheiros que elas julgam serem pessoas sempre erradas para elas.
Quando uma situação se repete muitas vezes, é preciso verificar onde está o problema. Pode não estar no outro. Por que essa sensação de que se ama mais que o outro? Como se avalia isso? Uma coisa é entregar-se a um relacionamento para que ele dê certo, outra é esquecer-se de si próprio e viver em função do companheiro. Talvez o outro esteja amando igualmente e com tudo que pode, mas na ânsia de amar, sente-se um vazio que parece vir do outro. E de onde vem então? Vem de si mesmo.
Li um artigo interessante da psicoterapeuta Maria Aparecida Diniz Bressani, em que ela diz que "o amor demais por alguém é fruto do amor de menos por si próprio. E amor de menos por si é desamor por si. É o sintoma de uma baixa autoestima. E continua: "esta sensação de desamor leva as pessoas a uma angustiante e ansiosa busca do amor". Para ela, essa "busca de amor, neste nível, produz concessões que beiram a anulação" de si mesmas.
Assim, percebe-se que esses parceiros estão sempre carregando dos seus relacionamentos muitas mágoas, sofrimentos e decepções. O desamor leva a um comportamento emocional que só acumula vazio e carência. "Amar, ser amado e ser feliz exige um exercício diário. Não existem fórmulas prontas", diz a terapeuta. Ela alerta, ainda, para a possibilidade de pessoas que agem dessa forma poderem somatizar doenças.
Essa ânsia por ter amor, faz com que as pessoas percam o amor-próprio. Sem perceber, podem até estar junto de alguém que as ama, mas seu comportamento emocionalmente desequilibrado e voraz acaba por sufocar o outro que não consegue lidar com a cobrança que elas lhe impõem.
É importante que essas pessoas, que sofrem desse desamor, quebrem esse círculo vicioso de procura de amor e mais amor que nunca lhes traz bem-estar e felicidade, somente angústia.
Pessoas que acreditam ser imprescindível estar com alguém ao lado para serem felizes incorrerão sempre no mesmo erro, pois não podem depender do outro, precisam ser suficientes por si mesmas, até para poderem oferecer algo bom e enriquecedor para um companheiro.
Por isso é tão importante que essas pessoas parem e façam uma reflexão sobre as motivações que as levam a tomarem determinadas atitudes. É assim que se descobre que ninguém é vítima da vida e que mudanças serão sempre necessárias para se viver bem.
Só dessa forma se pode reconhecer e valorizar o que se é e o que se tem de bom. E o resultado de uma reflexão desse tipo pode ser o início de novas posturas em busca de felicidade sem tanto sofrimento, com mais serenidade, porque a felicidade, assim como o amor, está primeiramente em nós.
Rita Ribeiro
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*"Pessoas que amam demais: sintoma de desamor", de Maria Aparecida Diniz Bressani, psicóloga e psicoterapeuta junguiana.
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