Quanta, quanta solidão!
Aquela alma/que vazia,
Que sinto
inútil e fria
Dentro do meu coração!"
(Fernando Pessoa)
Melancolia parece ser o assunto do momento, tudo por causa do filme do diretor Lars Von Trier chamado Melancolia. Li tantos artigos a respeito, que quis mesmo é falar dela, essa sensação, sentimento ou doença - a melancolia. Confesso que a desconhecia como doença similar à depressão ou considerada por muitos como sendo a própria depressão, tratada com antidepressivos, terapia e tudo mais que requer um paciente depressivo. No entanto, há quem discorde e considere a melancolia como uma das características do estado depressivo. Ou ainda o estágio mais extremo da depressão.
Para Freud, que tratou dela num estudo chamado "Luto e Melancolia", pessoas melancólicas sentem-se inúteis, incapazes de amar, incapazes de fazer algo bem ou de bom para os outros. Para ele difere do luto, porque neste a pessoa sente grande tristeza pela perda de alguém (ou algo); enquanto, na melancolia, a tristeza e a sensação de vazio não tem uma causa definida. Outros, ainda, a caracterizam como uma tristeza sem causa, acompanhada de uma saudade difusa, de desgosto e pesar. Para os psiquiatras, é um distúrbio emocional caracterizado por um abatimento mental, pela sensação de impotência e pela sensação de que a vida não tem sentido - parte característica da depressão.
Eu sempre imaginei a melancolia como uma tristeza ou a falta de um não-sei-o-quê, uma vontade de estar em algum outro lugar, que não aqui. Um estado de inadequação em relação ao que está ao redor. Não acredito ter errado muito.
Luiz Fernando Pondé, filósofo, professor e escritor, em artigo intitulado "Os infortúnios da melancolia", traça um paralelo da personagem Justine do Marquês de Sade e a Justine de Von Trier, o que, aliás, achei muito interessante. Diz ele que "se em Sade ela [Justine] é a vítima indefesa da crueldade de uma natureza que ama torturar suas criaturas, revelando a inutilidade da virtude do mundo"; em Von Trier, Justine é a vítima indefesa da melancolia, porque (sempre) percebeu que 'a vida na Terra é má' e condenada". "Estamos sós", profetiza Justine. "Não há esperança para nós", diz Von Trier, que na vida real, sofre do mal retratado na personagem de sua Justine.
Segundo o psicólogo Marco Antônio Rotta Teixeira - cuja tese fala da melancolia e da depressão na tradição do pensamento ocidental -, ela "sempre ganhou diferentes definições na história. Mesmo sem dizer seu nome, as pessoas reconhecem o sentimento de melancolia". Aristóteles, filósofo grego, a elevou ao conceito de genialidade, associando a melancolia ao conhecimento e à intelectualidade. Nos séculos 18 e 19, ela esteve presente nas produções artísticas dos escritores simbolistas, como Baudelaire, por exemplo. Antes ainda, no Romantismo, fortemente marcado pelo sentimentalismo e subjetividade do herói romântico, a literatura é fortemente caracterizada pela emotividade, o sonho, o pessimismo, a melancolia, e a evasão na morte - solução para o mal do século. Por isso pode-se perceber certos clichês no filme de Lars Von Trier como a noite, a lua, a noiva, as sombras.
Por ser o assunto mais analisado, não só sob ponto de vista artístico, mas também filosófico, e entre psiquiatras e psicanalistas; trouxe à discussão outro ponto: o uso do antidepressivo desde seu surgimento nos anos 1980 e 1990; o aumento do consumo nos dias atuais; mas, ao mesmo tempo, a necessidade desse uso no tratamento dessas doenças. Por fim, a psicanalista Maria Rita Kehel, em seu artigo "Flânerie Bipolar", expõe a melancolia como caráter criativo que a psicanálise converteu em distúrbio ao tratá-la com as drogas; e vê mérito no filme "Melancolia" na medida em que ele desvenda "a estupidez da fé contemporânea nos 'efeitos de felicidade' como medida de todas as coisas".
Bom... A genialidade pode até ser resultado de um estado patológico, mas nem todos que se encontram numa melancolia doentia, por exemplo, seriam gênios. E a estes que sofrem é necessário o uso das drogas que os farão muito menos criativos.
Eu, particularmente, vejo nisso tudo uma grande discussão que nunca terá fim, pois, essa sensação de vazio transcende o homem. De estado de ânimo à doença, acredito haver diversas nuances da melancolia na alma do ser humano. É a eterna pergunta que ele mesmo (consciente ou inconscientemente) se faz: Quem sou eu e para onde vou? É a busca de sua identidade e de sua essência. Não encontraremos respostas para as grandes questões humanas, se nos voltarmos apenas para o pessimismo tão aclamado pelos filósofos.
A busca da felicidade é natural ao homem, instintiva até. Não a qualquer custo, como diz a psicanalista, mas com o fim de crescimento, de progresso e de uma vida saudável. O resto é conversa e assunto da moda.
Para Contardo Calligaris, "Von Triers conseguiu dar sentido (e charme) ao fundo do poço." E arremata: "Não perca".
Concordo. E cada um que tire sua conclusão.
Eu sempre imaginei a melancolia como uma tristeza ou a falta de um não-sei-o-quê, uma vontade de estar em algum outro lugar, que não aqui. Um estado de inadequação em relação ao que está ao redor. Não acredito ter errado muito.
Luiz Fernando Pondé, filósofo, professor e escritor, em artigo intitulado "Os infortúnios da melancolia", traça um paralelo da personagem Justine do Marquês de Sade e a Justine de Von Trier, o que, aliás, achei muito interessante. Diz ele que "se em Sade ela [Justine] é a vítima indefesa da crueldade de uma natureza que ama torturar suas criaturas, revelando a inutilidade da virtude do mundo"; em Von Trier, Justine é a vítima indefesa da melancolia, porque (sempre) percebeu que 'a vida na Terra é má' e condenada". "Estamos sós", profetiza Justine. "Não há esperança para nós", diz Von Trier, que na vida real, sofre do mal retratado na personagem de sua Justine.
Segundo o psicólogo Marco Antônio Rotta Teixeira - cuja tese fala da melancolia e da depressão na tradição do pensamento ocidental -, ela "sempre ganhou diferentes definições na história. Mesmo sem dizer seu nome, as pessoas reconhecem o sentimento de melancolia". Aristóteles, filósofo grego, a elevou ao conceito de genialidade, associando a melancolia ao conhecimento e à intelectualidade. Nos séculos 18 e 19, ela esteve presente nas produções artísticas dos escritores simbolistas, como Baudelaire, por exemplo. Antes ainda, no Romantismo, fortemente marcado pelo sentimentalismo e subjetividade do herói romântico, a literatura é fortemente caracterizada pela emotividade, o sonho, o pessimismo, a melancolia, e a evasão na morte - solução para o mal do século. Por isso pode-se perceber certos clichês no filme de Lars Von Trier como a noite, a lua, a noiva, as sombras.
Por ser o assunto mais analisado, não só sob ponto de vista artístico, mas também filosófico, e entre psiquiatras e psicanalistas; trouxe à discussão outro ponto: o uso do antidepressivo desde seu surgimento nos anos 1980 e 1990; o aumento do consumo nos dias atuais; mas, ao mesmo tempo, a necessidade desse uso no tratamento dessas doenças. Por fim, a psicanalista Maria Rita Kehel, em seu artigo "Flânerie Bipolar", expõe a melancolia como caráter criativo que a psicanálise converteu em distúrbio ao tratá-la com as drogas; e vê mérito no filme "Melancolia" na medida em que ele desvenda "a estupidez da fé contemporânea nos 'efeitos de felicidade' como medida de todas as coisas".
Bom... A genialidade pode até ser resultado de um estado patológico, mas nem todos que se encontram numa melancolia doentia, por exemplo, seriam gênios. E a estes que sofrem é necessário o uso das drogas que os farão muito menos criativos.
Eu, particularmente, vejo nisso tudo uma grande discussão que nunca terá fim, pois, essa sensação de vazio transcende o homem. De estado de ânimo à doença, acredito haver diversas nuances da melancolia na alma do ser humano. É a eterna pergunta que ele mesmo (consciente ou inconscientemente) se faz: Quem sou eu e para onde vou? É a busca de sua identidade e de sua essência. Não encontraremos respostas para as grandes questões humanas, se nos voltarmos apenas para o pessimismo tão aclamado pelos filósofos.
A busca da felicidade é natural ao homem, instintiva até. Não a qualquer custo, como diz a psicanalista, mas com o fim de crescimento, de progresso e de uma vida saudável. O resto é conversa e assunto da moda.
Para Contardo Calligaris, "Von Triers conseguiu dar sentido (e charme) ao fundo do poço." E arremata: "Não perca".
Concordo. E cada um que tire sua conclusão.
Artigos citados neste post:
"Os infortúnios da melancolia", de Luiz Fernando Pondé, publicado na Ilustrada, da Folha de S. Paulo;
"A Arvore da vida e Melancolia", de Contardo Calligaris, publicado, na Ilustrada, da Folha de S. Paulo;
"É uma tristeza", matéria do Caderno Equilíbrio, publicado na Folha de S. Paulo;
"Flânerie bipolar", artigo publicado no Ilustríssima, da Folha de S. Paulo.
Fiquei com vontade de assistir o filme!
ResponderExcluirE concordo com você. Entre a alteração do ânimo e a doença há diversas nuances de melancolia. Nem toda ela é patológica. Às vezes parece até necessária.
Tava com saudade de ler seus textos!
Beijo grande!!!!
Oi Rita,
ResponderExcluirQue lindo que é seu blog. Amei, parabéns, muito bom gosto!
Parabéns pelo post também, ganhou mais uma seguidora!
=) Bjs no coração!!!