(Bert Estabrook)
Dia desses, abrindo o livro "Perdas & Ganhos" de Lya Luft, li a frase "Gosto das coisas - pessoas e palavras - desconcertantes. Seus contornos imprecisos permitem que a gente exerça o direito de refletir e de criar em cima delas". Nesse trecho do texto ela trata justamente do poder das palavras, território dela, escritora e tradutora que é. Diz ainda que "palavras gastam-se como pedras de rio: mudam de forma e significado, de lugar, algumas desaparecem, vão ser lama de leito das águas, contaminam-se pelo uso e se tornam agressivas ou contraditórias. Tornam-se confusas e ineficientes".
No entanto, sabemos que quem imprime esses contornos desconcertantes (ou não) às palavras são as pessoas mesmas que expressam seus sentimentos e pensamentos muitas vezes imperfeitos. Coincidentemente, alguns fatos por que passei me remeteram à essa ideia. A palavra é a verbalização de um pensamento, uma intenção, um comportamento.
Toda essa reflexão minha começou com uma entrevista que fiz em uma editora, pois quem me entrevistou perguntou coisas estranhas, desconcertantes, invasivas, constrangedoras. E por quê? O que ela queria avaliar em mim? Ela gostou de meu currículo, mas por que eu precisaria responder a ela por que moro sozinha, por exemplo, ou como é minha rotina, o que faço desde que levanto? Em que me avaliava? Em que isso é importante na minha capacidade de revisar um livro? Eu sei que entrevistas buscam um perfil detalhado de quem se quer contratar, mas já fiz outras que se concentraram no meu conhecimento e na minha experiência.
Toda essa reflexão minha começou com uma entrevista que fiz em uma editora, pois quem me entrevistou perguntou coisas estranhas, desconcertantes, invasivas, constrangedoras. E por quê? O que ela queria avaliar em mim? Ela gostou de meu currículo, mas por que eu precisaria responder a ela por que moro sozinha, por exemplo, ou como é minha rotina, o que faço desde que levanto? Em que me avaliava? Em que isso é importante na minha capacidade de revisar um livro? Eu sei que entrevistas buscam um perfil detalhado de quem se quer contratar, mas já fiz outras que se concentraram no meu conhecimento e na minha experiência.
No entanto, isso tudo acabou sendo um bom aprendizado, pois percebi que o conhecimento que se tem parece não ser o mais importante hoje em dia - mas essa é outra história. Eu saí de lá decepcionada, mas não podemos valorizar demais essas situações, porque elas sempre existirão. Quantas vezes não causa espanto o fato de as piores palavras serem aquelas ditas justamente por quem temos algum tipo de afeto? Sim, pois muitas vezes nos confundem, nos fazem ter uma expectativa muito boa a respeito de si mesmos, à primeira vista e vamos percebendo com a convivência que nas entrelinhas do que nos dizem há segundas intenções, falsidade ou uma boa dose de egoísmo.
Se quem as expressa não obtém o que deseja de nós, as palavras se modificam junto do seu comportamento. Pois é... As palavras são reflexo do que são as pessoas.
"Algumas palavras me assustam quando espio por trás de seus sete véus." Diz Lya Luft. "Muitas revestem as transformações de padrões de comportamento, progresso e avanço, mas também sombra e estéril angústia, desperdício."
E eu acrescento que, por essas palavras serem o reflexo do que as pessoas são, de seus valores e até de sua essência; e por conseguirmos de forma mágica imprimir tais sentimentos em cada som de cada palavra que expressamos, devemos prestar um pouco mais de atenção ao que nós falamos e no "modo como nossas palavras se apoderam de nossas experiências e lhes dão rostos, roupas, ares que nem tínhamos imaginado".
Belas e sábias palavras de Lya.
Oi, Rita.
ResponderExcluirAinda não consegui ver com calma seu blog, mas já achei bem interessante. :) Voltarei.
Beijos