Algumas crônicas de Danuza Leão chamam muito a minha atenção, pois ela realmente fala de coisas que coincidem com o que já me passou pelo pensamento, o que vivi, ou que vejo muitas pessoas viverem. Na crônica intitulada "Será?"*, por exemplo, ela levanta a questão da preferência que o pai ou a mãe, às vezes têm, ao gostar mais de um determinado filho.
A escritora se pergunta o "que é que faz com que se goste mais de uma pessoa que de outra? Nem sei se é mesmo gostar ou questão de preferir". Para ela, há sempre o filho preferido que pode mudar, ser um num momento e depois um outro, dependendo das circunstâncias. "Alguns gostam mais do filho que dá mais trabalho, outros preferem os mais certinhos, vai entender a cabeça humana", diz ela.
E eu, aqui, fico pensando que isso é assim mesmo. Talvez só os pais, tios e os avós, que têm seus sobrinhos e netos prediletos, saibam explicar. Ou não, pois como bem diz José Saramago, "há coisas que nunca se poderão explicar por palavras".
E o que põe a cronista ainda mais curiosa "é saber se essas preferências têm a ver com o temperamento, a vivacidade, os gostos comuns, a beleza, ou o quê? Será que é a convivência que cria gostares, ou é o sangue que fala mais alto?" Não se pode negar que isso aconteça em toda família. Muitas vezes nos identificamos muito mais com um amigo que com um irmão. "Irmãos têm obrigação de se adorar?"- pergunta ela -, "como fica essa história de ter o mesmo sangue?"
E isso nada tem a ver com sangue, mas com afinidades que temos com maior ou menor intensidade com as pessoas de nossa família. Sempre há alguém que nos é mais afim, que pensa de forma muito parecida com a nossa, tem sentimentos semelhantes e vivenciam os acontecimentos com a mesma intensidade e sensibilidade. É a identidade que temos de sentimento e pensamento que cria um laço além do que entendemos ou podemos explicar. Assim são também os amigos, aqueles que sabem muito de nós e compreendem o que sentimos sem nem termos que explicar muito.
É o olhar, o sorriso, as palavras que são trocadas, o incentivo e a forma de se gostar. É um querer bem, muito bem, do outro. Quem já não conheceu alguém e pensou: nossa!, "parece que nos conhecemos há tempos!", tamanha a identidade que temos com elas.
Isso explicaria à cronista, por que crianças adotivas, quando conhecem os pais verdadeiros "não querem saber muito deles". Também explicaria a ela por que o amor pode, ou não, "nascer espontaneamente" naquelas mães cujos filhos são trocados numa maternidade. E que também não há garantia de um grande amor naqueles que se descobrem parentes, "agora que tem exame de DNA". Garantia de uma grande herança, talvez. Será?
E voltando à questão dos pais e mães que possuem lá suas preferências e gostares (como nós também), podemos compreendê-los, como filhos, sem que com isso nos sintamos feridos em nossas vaidades, carências ou suscetibilidades. Eles, que nos conceberam, nos criaram, nos amaram com tudo o que podiam, nos deram identidade, devem ter lá certa sabedoria dada pelo Criador que lhes intui quando e em que situações necessitam gostar mais, preferir mais, amar mais ou seja lá o que for esse enorme sentimento que pai e mãe sabem dar a nós sempre e quando precisamos mais. E nos dão.
Rita Ribeiro
* "Será?", crônica de Danuza Leão publicada no jornal Folha de São Paulo, no Caderno Cotidiano, em 2 de maio de 2010
Oi Rita!
ResponderExcluircoloquei seu blog na minha listinha do selo "Esse blog me faz sorrir"... passa lá:
http://piensitasquecoiso.blogspot.com
Muito bom teu blog,lindo o fundo e maravilhoso os textos...
ResponderExcluirLhe 'per' seguindo agora...rss
beijos
Talita
tatapalavrasaovento.blogspot.com
Rita, deve ser mesmo porque o parentesco corporal nem sempre é espiritual e vice-versa...Daí o que você explicou tão bem: "as afinidades que temos com maior ou menor intensidade com as pessoas de nossa família. Sempre há alguém que nos é mais afim, que pensa de forma muito parecida com a nossa, tem sentimentos semelhantes e vivenciam os acontecimentos com a mesma intensidade e sensibilidade. É a identidade que temos de sentimento e pensamento que cria um laço além..."
ResponderExcluirEu também curto a Danuza! Embora eu conheça uma gente que ache ela superficial, eu não acho não. Acho-a descolada. Mas mais ainda acho você, descolada, que, aproveitando um mote da Danuza, diz tudo isso por aqui. ;-D
Oi Rita,interessante......acredito que amamos de forma diferente cada um.Em cada ciclo talvez estejamos mais conectados com um por varios motivos, outros vezes estamos conectados com o outro por varios motivos tb.rss.
ResponderExcluirAcredito que quando nos conhecemos vamos tomando mais consciencia do nosso ser, como agimos, ou pensamos.Por essa razão que variamos muitos nossos sentir,nossos amores.......
Mas com certeza o amor nunca é o mesmo e não devemos nos culpar por isso.Pela simples razão que existe outro lado a visão de cada filho,amigos ,inimigios.. sobre nós.Sobre o que falamos ou fazemos cada um sente e interpreta diferentemente.Não há como controlar isso.Essa total transformação,impermanencia é que nos faz crescer ,entender, nos ver (pois é muito dificil nos enchergamos realmente,somos o que pensamos ser e ai...?).
Essas difereças que fazem a nossa vida muito melhor , mais flexiveis,mais simples e verdadeiras.Temos sim preferencias ,afinidades,sincronias.......
Agora penso tb que existe os amores que permacem para sempre ,sem tempo lugar ou distancia em nossos corações.
Concluindo nosso coração é danado ainda, aconchegamos certas pessoas sem saber exatamente porque.Talvez chegaremos um dia a um amor incondicional sem preferencias.....será? Não sei tb......sou simples mortal ainda.
Bejos e eu te amo viu......