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Nossas perdas


Perdas. Estamos sempre perdendo algo no decorrer de nossas vidas. Perdemos paciência, perdemos vontade. Paciência com o que nos parece difícil enfrentar; a vontade de fazer coisas simples como sair e nos divertir; caminhar; acordar (ou dormir) cedo; até trabalhar. Além de vontade e paciência, perdemos tempo, perdemos tempo falando muito e fazendo pouco ou falando pouco e fazendo muitas bobagens. Perdemos o ânimo, a esperança, a alegria, o entusiasmo, porque passamos por fases difícieis de nossas vidas que nos colocam à prova; e voltamos a perder paciência, vontade e tempo.
 
Mas por passarmos por tudo isso, temos ganhos, pois um dia precisamos acordar e voltar a viver e, para isso, ter vontade e ânimo e ver que o tempo é precioso e que a vida precisa ser vivida com entusiasmo, alegria e esperança. Todos perdemos, do material ao emocional. Estas são perdas pelas quais passamos por toda a vida e com as quais aprendemos e crescemos.
E temos perdas maiores, a das pessoas com as quais vivemos, convivemos no dia a dia, trocamos experiências, aprendemos e ensinamos. E, um dia, elas se vão. São perdas difícieis, porque deixam vazios. Foram pessoas que nos acomapanharam em parte de nossas vidas e não tê-las nos torna tristes, por muito ou pouco tempo, o que também depende de nós. E voltamos a perder ânimo, alegria, entusiasmo e esperança. Mas com essas ainda podemos encontrar, estão por aí, em algum lugar.
Contudo, a mais difícil é aquela perda da qual ninguém está livre: a perda de alguém a quem amamos por uma vida inteira, a pessoa que nos deu identidade, educação, conhecimento, lições de vida e exemplos de honestidade e dignidade. Perdemos quem nos ajudou a ser quem somos, que brigou, mas que também brincou, abraçou, sorriu, ficou feliz com nossa felicidade e entristeceu-se com nossa tristeza. Aquela pessoa que nos incentivou sempre, a vida toda, mesmo que não quiséssemos o que ela queria.
No entanto, apesar da dor, do vazio, da tristeza e da ausência que será eternamente sentida, devemos lembrar sempre do que ficou de bom e positivo. Devemos ter sempre conosco as lembranças felizes. E ter sempre em mente que, na vida existem muitas perdas, mas sempre, e mesmo nos momentos em que estamos diante de uma grande tristeza como essa, temos verdadeiros ganhos. E cabe a nós reconhecê-los. Cabe a nós ver e sentir que a vida é assim: ao lado do que nos entristece há sempre algo para nos alegrar. Ganhamos no momento em que perdemos e nada há de contraditório nisso.

Se observarmos bem, enquanto algo nos escorre por uma mão, na outra encontramos depositado carinho e conforto necessários para prosseguir. Assim, não perdemos ânimo nem vontade nem alegria nem tristeza, somamos força e esperança. E o tempo, nesses momentos, é o nosso aliado. Sentimos muito nos momentos de perda, porque são difíceis e temos a tendência de valorizá-los enormemente a ponto de ficarmos cegos ao que está ao redor, o que é para nós uma estranha e boa compensação.
O vazio e a lembrança ficarão, certamente, mas a vontade e a motivação para viver bem, também. Saibamos ter olhos para ver o que há de bom, sempre, em cada fase de nossas vidas e, consequentemente, teremos mais ânimo e entusiasmo, além de muita esperança e alegria. 
É isso que nos faz viver melhor e mais felizes. São esses os nossos ganhos, os momentos de felicidade, mesmo diante de uma grande tristeza, de uma grande perda.

Dedico este post ao meu pai que nos deixou nesta semana, mas que já vinha nos deixando um pouco a cada dia. A ele desejo paz e felicidade. E sei que não foi um fim. Dedico também a todos de minha família que carregaram e confortaram um pouco de minha alma. E me deixaram feliz neste momento tão difícil. Amo a todos eles!

Comentários

  1. Nós perdemos hum segundo a cada segundo que vivemos... por isso, desde que nascemos já experimentamos algum tipo de perda. Entender essas perdas é que demora... e aceitá-las demora hum pouco mais...

    Parabéns pelo seu texto!

    A vida é huma aventura maluca, Rita... hum filme com hum roteiro tão estranho que, na maioria, das vezes não faz o menor sentido... a menos que nós a forcemos a fazer... mas, como diria Millôr, a única certeza que a gente tem é que no final o bandido morre... o mocinho também... e toda a platéia...
    Por isso, a única perda irreparável é a do tempo... então...

    TEMPUS FUGIT... CARPE DIEM!

    Beijo grande!

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  2. Rita
    Penso que houve uma transformação. Transformamos as lagrimas em sorrisos; dor em abraços e olhares ternos. Essa transformação esta presente dentro de nosso íntimo e só vai se manifestar se tivermos a capacidade de amar e a sabedoria de nos colocar no lugar do outro. O tempo - É ele o responsável em nos ensinar a sabedoria e o amor se tornou tão precioso que realmente não pode ser perdido.........
    Também amamos muito você!!!!!!

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  3. Linnnnndoooooo!!!!!! É isso mesmo......perdas fazem parte da vida.....!
    bjs
    Marilusy

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  4. De perdas e despedidas está repleta nossas vidas. Sempre nos deparamos com algo que nos transporta a esta dimensão que avisa da impermanência de tudo. O difícil é nossa ilusão de infinitude suportar esta idéia.
    Parabéns pelo blog. Vou sempre visitar.
    Abraço,
    Germana

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  5. Com este post fiquei lembrado de um poema da poeta americana Elizabeth Bishop, "One Art" que começa "The art of losing isn't hard to master; so many things seem filled with the intent to be lost that their loss is no disaster" e me perguntei se vc foi inspirada por esse poema no qual ela fala do fenomeno da perda constante na vida e da acomodaçao com isto.
    Alias ela viveu uns 15 anos no Brasil desde 1951 e traduziu varios poetas centro- e sul-americanos como Octavio Paz, Joao Cabral de Melo e Carlos Drummond de Andrade. Se vc nao conhece essa poesia vale a pena de ler (se vc entende o ingles, claro!).
    Na minha opiniao a perda mais desastrosa e definitiva é a perda de si mesmo. Essa é a perda final, a perda da qual nao tem retorno.
    Um abraço

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  6. Olá Rita,
    Venho agradecer a simpática visita ao meu cantinho!
    Estou vendo que os seus blogues também são muito interessantes... Voltarei com mais tempo!
    Bjs
    Alda

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