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Quando desistir é parar de insistir

“Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que mais se ama. Eu desisti. Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, mas por não ter mais condições de sofrer."
(Bob Marley)


O que essa frase diz, quando a li, veio ao encontro de alguns pensamentos meus a respeito do que é desistir. Geralmente a ideia de se desistir vem associada à falta de coragem de ir em busca daquilo que se quer muito. E realmente pode ter esse sentido, dependendo do contexto que se vive.
No entanto, penso que em alguns momentos é necessário desistir. Desistir de posturas, desistir de alguns pensamentos, desistir de algumas atividades, desistir de pessoas até... Estranho isso? Não, não é. 
Às vezes lutamos muito por algo que, imaginamos, trará muitas alegrias ou realização pessoal, estabilidade financeira, a pessoa ideal para nossa vida ou aquele amigo verdadeiro. Poderia fazer aqui uma lista enorme de possíveis motivos para uma desistência. Tudo o que desejamos e pelo que lutamos e alcançamos deve nos fazer felizes. No entanto, se ao contrário, nos traz estresse, conflitos, mal-estar, é sinal de que algo está errado. E insistimos, porque nem sempre podemos desistir, porque dependemos daquele trabalho, dependemos daquela situação, daquela pessoa que achamos que precisamos ter ao nosso lado, enfim, insistimos em muitas coisas que não nos fazem felizes. 
Mas se a experiência vivida nos faz sofrer, é hora de desistir e parar de insistir por medo de parecer que se entregou os pontos, que se fracassou, que se lutou pouco, que se precisaria ter mais coragem ou ser muito forte para conseguir se manter naquela situação tão, tão, tão ruim. E isso vale para qualquer experiência de nossa vida.
Confesso que deixei uma atividade interessante e pela qual lutei muito - mas quando a consegui só me trouxe decepções e, claro, tristeza. Não desisti. Insisti. Tentei várias formas de encarar aquelas situações difíceis, mas não adiantava, não dependia de mim. Alguém, um dia, me disse: largue tudo isso, porque está lhe fazendo mal. Eu não aceitei, pois quis tanto, fiquei tão feliz... E desistir? Não poderia.
É que eu insistia em imaginar que algo poderia mudar, por ingenuidade ou por querer muito que mudasse. Um dia, desisti, parei de insistir. Desisti sentindo um misto de tristeza e dúvida, mas o bem que essa desistência traria foi sentido logo em seguida por mim - foi um alívio.  
Isso tudo é romper. E as rupturas assustam, porque não sabemos bem o que encontraremos depois ou como nos sentiremos. Mas como tudo é mudança e transformação na vida, desistir do que nos traz tristeza, talvez seja a melhor atitude, talvez ceda lugar a algo melhor. 
Entrega é muito bom, mas desapego também. O mais importante é tentarmos estar minimamente bem, e nos mantermos dignamente respeitados pelas pessoas e por nós mesmos. Não necessitamos aceitar tudo o que nos é imposto, e nem podemos sentir culpa. 
Desisti de insistir em diversas situações. Se estou certa ou não com essa minha postura, não sei. Mas o que quero é me sentir bem e ter paz de espírito. Cada um tem seu modo de viver e, também, de enfrentar as situações.
Por isso, desistir ou insistir depende de cada um de nós, do que desejamos e de quais são as nossas prioridades. Mudanças e transformações fazem parte de nossa vida, que flui como um rio. Portanto, que ela possa fluir com  bons momentos de feliz serenidade.

Rita Ribeiro

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