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Os sentidos da vida

"Qual é o sentido da vida?" Por que certas pessoas procuram por esse sentido? Muitos imaginam que essa vida "efêmera" não tem sentido algum. "Se vamos morrer, qual o sentido disso tudo?"  E me pergunto: por que a vida precisa ter um grande sentido, um grande propósito - difícil de se compreender até -, que é o que parece ser a resposta que essas pessoas buscam.
A vida tem muitos sentidos, ou como afirma Contardo Calligaris, "se justifica por si só". Para o  psicanalista, "essa necessidade de justificar  a vida se impõe, quando a própria vida não se basta mais". Para ele, procura-se um sentido para a vida somente "quando o cotidiano perde sua graça e seu encanto".
Existem pessoas que só veem sentido na vida, se levantarem uma grande bandeira, uma grande causa, se tentarem diminuir a fome do mundo ou salvarem a Amazônia... Não estão errados ao defenderem algo de  bom e para o bem, é claro. Mas fazendo isso estão dando sentido à vida de outros e não às deles. Isso me faz lembrar Amélie Poulain, personagem  do filme "O fabuloso destino de Amélie Poulain", que tenta dar sentido à sua vida fazendo algo que felicite as pessoas que encontra em seu caminho. E conversando com o pintor, seu amigo, ela diz que "faz de tudo para arrumar a vida dos outros". E ele retruca: "E as suas desordens? Quem vai pôr em ordem?" 
A experiência de viver é o sentido da vida. Já não é bastante significativo para nós caminhar em meio a "intervalos de sofrimento" - parafraseando Vinícius -, para alcançar alguma felicidade? Sim, pois passar por esse processo é difícil, e ao mesmo tempo gratificante, porque quando vencemos etapas do caminho, nós nos superamos, nós nos transformamos, aprendemos. 
Nesse processo há muitos sentidos...
A vida é simples se soubermos vivê-la dia após dia, um bom, outro também, com algum ruim junto. É aceitar as perdas e nos felicitarmos com as alegrias, mesmo que aos poucos. É saber ver a beleza da natureza ao nosso redor, é não desanimar, não deixar-se perder o encanto. É valorizarmos as pessoas de nossa vida, pois são as pessoas da nossa vida.
Não é preciso um grande projeto de vida para ser feliz, é preciso viver bem o dia a dia simples e comum, apesar de tudo. Dessa experiência do cotidiano é que vamos encontrando respostas e descobrindo muito de nós mesmos a cada momento vivido e partilhado com os outros.
Viver é aprender a conviver. É aprender que vamos nos decepcionar. É saber que sempre haverá alguém a nos julgar. Mas viver é também reconhecer os amigos, é sermos amigos, é sabermos que tudo o que fazemos e criamos, e em que nos empenhamos, sempre nos trará de volta bem e satisfação.
O sentido da vida é viver do nascer ao morrer, do sofrer ao sorrir, do desânimo ao ânimo, do desamor ao amor. E passar por isso tudo é dar o maior significado que uma vida pode ter. 
"Talvez devamos viver a vida como uma iniciação(...) à própria vida e à sua ausência de mistério". É o que nos diz Calligaris. E muito bem.

Rita Ribeiro
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* "O sentido faz falta?", Contardo Calligaris, artigo publicado no caderno Ilustrada, da F. de São Paulo, hoje, 06/10/2011

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